Quando o trono papal fica vago, seja por falecimento ou renúncia do Papa, a Igreja Católica entra em um dos processos mais solenes e tradicionais do mundo: a eleição de um novo pontífice. Esse ritual centenário é conduzido por meio do conclave, uma reunião secreta entre cardeais que tem como missão escolher o novo sucessor de São Pedro.
Mas quem escolhe o Papa, afinal? Quantos cardeais participam? O que é o conclave e como funciona, na prática, esse processo cheio de ritos, silêncio e espiritualidade?
Caso você ainda não tenha assistido ao filme Conclave, que concorreu a 8 Óscares, neste artigo, vamos explicar como é escolhido o Papa, passo a passo: desde o momento em que a Sé Apostólica se torna vacante até o anúncio mundial tão aguardado, a fumaça branca e o famoso Habemus Papam!
Etapas do Conclave: como é escolhido o Papa
Para entender quem escolhe o Papa e como essa decisão é tomada, é preciso conhecer as etapas do conclave, um processo repleto de tradição, sigilo e significado. A seguir, explicamos passo a passo como é escolhido o pontífice, desde a vacância do cargo até o anúncio oficial ao mundo.
Fase 1
Sede Vacante: o início do processo
O conclave só começa quando a Sé Apostólica está oficialmente vaga, ou seja, após a morte ou renúncia do Papa. O camerlengo certifica a vacância e assume os assuntos administrativos básicos da Igreja, enquanto o restante da cúria romana é suspenso. A Igreja entra em um período de espera e preparação.
Fase 2
Congregações Gerais
Nos dias seguintes, todos os cardeais se reúnem para discutir a situação da Igreja e os perfis desejados para o novo Papa. Durante essas congregações gerais, define-se a data de início do conclave. Os cardeais eleitores (com menos de 80 anos) passam a residir na Casa Santa Marta, no Vaticano.
Fase 3
Início do Conclave
No dia marcado, os cardeais seguem à Capela Sistina, entoando o hino Veni Creator Spiritus. Após o chamado “Extra omnes!”, todos os não autorizados deixam o local, marcando o início da clausura. Os cardeais ficam totalmente isolados até a escolha do novo Papa.
Fase 4
Votação
As votações começam na tarde do primeiro dia. Podem ser feitas até quatro por dia, e cada cardeal escreve o nome de seu escolhido em uma cédula. Para ser eleito, é necessário obter dois terços dos votos. As cédulas são queimadas, e a cor da fumaça indica o resultado: preta, sem eleição; branca, Papa eleito.
Fase 5
Aceitação e nome papal
Ao atingir o número necessário de votos, o escolhido é convidado a aceitar a eleição e a escolher seu nome como Papa. Ele veste a batina branca e passa um momento na Sala das Lágrimas, antes de se apresentar ao público.
Fase 6
Proclamação oficial
O cardeal protodiácono anuncia: “Habemus Papam!”. O novo Papa então aparece na sacada da Basílica de São Pedro e dá sua primeira bênção: Urbi et Orbi, marcando o início oficial de seu pontificado.
A cadeira vaga: O que acontece quando um Papa morre (ou renuncia)?
O processo de eleição de um novo Papa (ou seja, como é escolhido o Papa) só pode começar oficialmente quando a Sé Apostólica é declarada vacante. Isso pode ocorrer de duas formas:
- Com a morte do Papa, fato que precisa ser oficialmente certificado pelo Camerlengo (o cardeal responsável por administrar a Sé vacante);
- Com a renúncia do Papa, como ocorreu no caso de Bento XVI em 2013.
Uma vez que a Sé é declarada vaga, tem início um período de transição conhecido como interregno. Durante esse tempo:
- Todos os chefes dos departamentos do Vaticano são dispensados de suas funções;
- Os assuntos ordinários da Igreja são tratados pelas congregações gerais dos cardeais;
- Nenhuma decisão de governo pode ser tomada.
É nesse período que o Colégio de Cardeais se reúne em assembleias preparatórias (congregações), nas quais a situação atual da Igreja é discutida, os perfis dos possíveis candidatos são avaliados e se planeja o início do Conclave, termo essencial para entender o que é o conclave e quem escolhe o Papa.
Entrada no Conclave: Isolamento, Juramentos e a Capela Sistina
A data de início do conclave, que marca o processo de como é escolhido o Papa, é definida entre o 15º e o 20º dia após a vacância da Sé Apostólica. No dia marcado, os cardeais participam da missa Pro Eligendo Papa na Basílica de São Pedro, presidida pelo decano do Colégio de Cardeais.
Depois da celebração, os cardeais eleitores (com menos de 80 anos) se dirigem à Casa Santa Marta, uma residência dentro do Vaticano preparada especialmente para o conclave. De lá, em procissão solene, caminham até a Capela Sistina cantando o tradicional Veni Creator Spiritus, invocando inspiração divina para esse momento tão importante.
O filme Conclave é bem interessante para quem gosta do tema e quer ver um pouco de como se passa o processo todo, lembrando que é uma obra fictícia, inspirada no verdadeiro processo do Conclave, logo, tem muitas coisas que são somente cinematográficas.
Quem vota em um conclave?
Apenas os cardeais da Igreja Católica com menos de 80 anos na data da morte ou renúncia do Papa podem votar. O número máximo permitido é de 120 eleitores. Embora a maioria dos cardeais eleitores também seja bispo, isso não é uma exigência obrigatória do direito canônico. O direito ao voto vem do título de cardeal, não da ordenação episcopal.
Esse ritual, com origens no século XII, é parte essencial para entender o que é o conclave e quem escolhe o Papa.
Para que o voto seja válido, é necessário que o cardeal esteja presente fisicamente no Vaticano e sem impedimentos graves. Uma vez dentro da Capela Sistina, acontece um dos momentos mais solenes: o mestre de cerimônias proclama “Extra omnes!” e as portas são fechadas. A partir daí, os cardeais ficam completamente isolados do mundo exterior até que o novo Papa seja escolhido.
A Votação: Maiorias, Cédulas e Fumaça
Assim que o conclave começa, a primeira votação ocorre na tarde do mesmo dia ou, no mais tardar, na manhã seguinte. Podem ser realizadas até quatro votações por dia: duas pela manhã e duas à tarde, sempre com intervalos para reflexão e oração.
Como funciona a votação 🗳️
Cada cardeal recebe uma cédula, na qual escreve, em latim, o nome do candidato escolhido. O voto deve ser feito com total sigilo. As cédulas são dobradas e depositadas em uma urna de prata, posicionada no centro da Capela Sistina.
Três cardeais, chamados escrutinadores, são responsáveis por:
- Contar as cédulas
- Ler em voz alta os nomes escritos
- Verificar a validade de cada voto
- Registrar e lacrar os resultados
Todo esse processo é supervisionado por três revisores e conta com a ajuda de três enfermeiros, encarregados de recolher os votos dos cardeais que, por motivos de saúde, não podem se deslocar até a capela.
O quórum necessário 🔢
Para ser eleito Papa, o candidato precisa obter uma maioria qualificada de dois terços dos votos.
Se nenhum candidato atingir esse número, novas rodadas de votação são realizadas.
A mudança desse quórum só é considerada em situações muito específicas, após várias tentativas sem sucesso e com aprovação unânime dos cardeais, respeitando sempre as normas vigentes da Igreja.
A fumaça: o famoso sinal 🙌
Após cada votação, as cédulas são queimadas em um forno especial. Um segundo forno, com aditivos químicos, é utilizado para gerar o sinal visível da decisão tomada:
Não houve acordo, nenhum Papa foi eleito
o quórum foi atingido e um novo Papa foi escolhido.
Esse ritual da fumaça é uma das tradições mais conhecidas da Igreja Católica, e chama a atenção do mundo inteiro durante o conclave. Em média, os últimos conclaves duraram cerca de três dias até a eleição do novo Papa.
Mas o que acontece depois que o novo Papa é escolhido? Continue lendo para descobrir o passo a passo desse momento histórico e entender ainda melhor quem escolhe o Papa e como é escolhido o Papa.
Da proclamação ao Habemus Papam: o ritual do anúncio
Quando um candidato atinge a maioria exigida e aceita a eleição, o decano do Colégio de Cardeais lhe faz a pergunta histórica:
Aceita sua eleição canônica como Sumo Pontífice?
Se a resposta for afirmativa, segue-se a segunda pergunta:
Com que nome deseja ser chamado?
Nesse momento, o novo Papa é conduzido à chamada Sala das Lágrimas, onde veste pela primeira vez a batina branca. O nome da sala vem da emoção e da solidão que muitos papas eleitos sentem ao se depararem com o peso da responsabilidade que assumem.
Logo em seguida, ele aparece na Loggia das Bênçãos da Basílica de São Pedro. O cardeal protodiácono faz o anúncio:
Annuntio vobis gaudium magnum: Habemus Papam!
São pronunciados o nome civil e o nome papal do novo pontífice. Poucos minutos depois, ele se apresenta aos fiéis, faz a primeira bênção Urbi et Orbi e inicia oficialmente seu pontificado.
Um Papa pode escolher qualquer nome?
De modo geral, sim. O Papa pode escolher livremente o nome com o qual deseja ser conhecido após a eleição. Não há regras canônicas que o obriguem a seguir uma lista pré-definida. Porém, algumas tradições e costumes não escritos costumam influenciar essa escolha:
Tradição
Muitos papas escolhem nomes de antecessores que admiram ou desejam homenagear, como João Paulo I e II, Bento XVI e Francisco.
Significado simbólico
O nome pode expressar o espírito ou a missão que o novo Papa deseja imprimir ao seu pontificado. O nome “Francisco”, por exemplo, faz referência a São Francisco de Assis.
Simplicidade e sobriedade Nomes extravagantes, mitológicos ou distantes da tradição cristã costumam ser evitados.
Ainda assim, nada impede que um Papa escolha um nome inédito (como fez João Paulo I em 1978) ou até mesmo invente um completamente novo.
A linguagem do ritual
O primeiro Papa a fazer sua saudação inicial em italiano foi João Paulo II, em 1978, rompendo com a tradição de utilizar o latim e buscando se aproximar mais do povo. Apesar disso, o latim ainda está presente em várias partes do conclave. É a língua litúrgica que marca os momentos mais solenes e definitivos do processo de eleição do Papa.
Confira algumas expressões latinas que ajudam a entender o que é o conclave e o simbolismo por trás de cada etapa:
| Frase Oficial | Tradução | Significado |
|---|---|---|
| Habemus Papam! | Temos um Papa! | Anúncio oficial de que um novo Papa foi escolhido, aguardado por milhões de fiéis. |
| Extra omnes! | Todos para fora! | Ordem dada para que todos que não participam do conclave deixem a Capela Sistina. |
| Veni, Creator Spiritus | Vem, Espírito Criador | Hino entoado pelos cardeais pedindo a inspiração do Espírito Santo antes da votação. |
| Eligo in Summum Pontificem... | Eu elejo como Sumo Pontífice... | Frase que os cardeais escrevem nas cédulas de votação durante o conclave. |
| Acceptasne electionem de te canonice factam in Summum Pontificem? | Aceitas tua eleição canônica como Sumo Pontífice? | Pergunta formal feita ao cardeal eleito antes de sua aceitação oficial. |
| Quo nomine vis vocari? | Com que nome deseja ser chamado? | Pergunta feita ao novo Papa sobre o nome que adotará no início de seu pontificado. |
Muito mais que uma eleição
A eleição do Papa é um dos eventos mais solenes e complexos da vida da Igreja Católica. Por trás do ritual do conclave, há uma combinação delicada entre discernimento espiritual, tradição histórica e dimensão humana.
Cada gesto: do isolamento à votação, da fumaça ao anúncio, faz parte de uma liturgia rica, que une passado e presente, fé e responsabilidade. Compreender como é escolhido o Papa é também compreender a estrutura da Igreja e sua essência espiritual.
E talvez, em um mundo marcado pela pressa e pelas decisões instantâneas, o conclave continue sendo um dos últimos espaços onde se escolhe ouvindo, com calma, no mistério da escolha.
Papa Leão XIV: o primeiro pontífice norte-americano
Em 2025, após a morte do Papa Francisco, o conclave se reuniu mais uma vez para decidir por um novo Papa que liderará a Igreja Católica. O escolhido foi o cardeal norte-americano Robert Francis Prevost, que assumiu o nome de Papa Leão XIV.
Sua eleição marca um momento histórico, sendo o primeiro pontífice dos Estados Unidos.
Com sólida formação teológica e experiência pastoral tanto na América Latina quanto na Cúria Romana, sua escolha reflete uma Igreja cada vez mais global e aberta ao diálogo com os desafios contemporâneos. A escolha do nome “Leão” remete à tradição de papas firmes e reformadores, como Leão XIII, sugerindo um pontificado voltado à justiça social e à renovação espiritual.
Precisamos tentar juntos ser uma igreja missionária, uma igreja que constrói pontes e diálogo, sempre aberta a receber, como nessa praça, com os braços abertos todos aqueles que precisam da nossa caridade e da nossa presença.
Papa Leão XIV em seu primeiro discurso
A eleição de um novo Papa é sempre um marco na história da Igreja Católica. Ao compreender quem escolhe o Papa, como é escolhido o Papa e o que é o conclave, nos aproximamos não só da estrutura eclesiástica, mas também muito sobre a história que nos acerca no mundo.
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