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Tiradentes
A Inconfidência Mineira, também conhecida como Conjuração Mineira, foi um dos movimentos separatistas mais importantes e emblemáticos do período colonial brasileiro. O movimento nasceu na cidade de Vila Rica, atual Ouro Preto, em 1789, e tinha como principal objetivo a independência de Minas Gerais do domínio de Portugal, influenciada principalmente pelo iluminismo francês.
Liderado por figuras importantes, políticos, poetas, militares e personalidades influentes, o movimento fracassou, mas deixou um legado importante para a história do nosso país. Neste artigo você vai entender o contexto, os personagens principais e o impacto dessa rebelião na luta pela independência do Brasil.
O que foi a Inconfidência Mineira? Contexto histórico
A Conjuração Mineira foi uma revolta separatista organizada pela elite intelectual e econômica de Minas Gerais contra a Coroa Portuguesa. O estopim para essa revolta era a cobrança abusiva de impostos, como a derrama, e a exploração do ouro das terras de Minas.

Com inspirações nas ideias do Iluminismo, que pregava a igualdade, fraternidade e a liberdade pela Europa, e pela Independência dos Estados Unidos, os inconfidentes planejavam proclamar uma República no Estado de Minas Gerais.
O movimento não passou de uma conspiração, pois antes mesmo da possibilidade de existir um levante armado, os conjuradores foram denunciados à Coroa Portuguesa por Joaquim Silvério dos Reis, em troca do perdão das suas dívidas.
Todos os inconfidentes delatados por Joaquim Silvério foram presos e 11 deles receberam como condenação a pena de morte. D. Maria I, Rainha de Portugal, converteu as sentenças ao exílio, mantendo a condenação à pena de morte apenas para Tiradentes.
Foi uma cobrança forçada de impostos decretada pela Coroa Portuguesa para complementar o valor do "quinto", imposto de 20% sobre todo o ouro extraído em Minas Gerais, quando a quantidade do ouro não atingia a meta estabelecida de 100 arrobas anuais.
O cenário na capitania de Minas Gerais que levou à revolta envolvem o declínio da mineração, já que na segunda metade do século XVIII o outo extraído nas minas começavam a se esgotar e Portugal continuava a cobrar impostos e determinou um mínimo anual de meta para a Coroa. Além disso, a Coroa Portuguesa proibia o desenvolvimento de manufaturas no Brasil, obrigando os colonos a comprar produtos caros importados de Portugal.
O movimento que reuniu padres, poetas, militares, fazendeiros e tinha como objetivo proclamar uma República em Minas Gerais e romper os laços com Portugal, estabelecendo um governo autônomo em Minas Gerais. Ocorreu durante a administração do Visconde de Barbacena. Cabe ressaltar que o movimento tinha um caráter regional, e não ambicionava a independência do país.
Outros objetivos eram: estabelecer indústrias locais e dar fim ao monopólio português; criar uma universidade em Vila Rica para o desenvolvimento intelectual da região; liberdade política e participação da população na tomada de decisões e embora não fosse um consenso entre os inconfidentes, alguns deles defendiam a abolição da escravidão.
Quem foi Tiradentes? O mártir da Independência
Sem dúvida alguma, Joaquim José da Silva Xavier, mais conhecido como Tiradentes, foi o rosto mais famoso da Inconfidência Mineira. Órfão de pai e mãe, Joaquim José foi criado pelo seu padrinho e tio, que lhe ensinou a profissão que lhe rendeu a alcunha de Tiradentes. Apesar de ter trabalhado como mascate, comerciante e ter sido militar, foi a profissão que aprendeu com o tio que lhe rendeu o nome popular de Tiradentes.
Durante o período da Conjuração Mineira, Tiradentes se destacou pela oratória e fervor revolucionário. Foi o único inconfidente condenado à morte, tornando-se um símbolo da resistência brasileira e um Herói Nacional.
mas apenas Tiradentes foi realmente executado.
Essa é a parte mais impressionante da história, já que cerca de 30 pessoas foram condenadas pela traição à Coroa, pelo menos 11 foram condenados a morte, todas as condenações foram revertidas ao exílio, e apenas a sentença de morde dele foi mantida.
Sua execução aconteceu no dia 21 de abril de 1792 e ainda hoje a data é lembrada como um feriado nacional. Há quem diga que a sua condenação foi pelo fato de ser o menos abastado dos inconfidentes, outros dizem que ele assumiu toda a culpa para livrar os demais companheiros. Há discussões entre os historiadores sobre Tiradentes ser um mito verdadeiro ou uma farsa inventada, mas o fato é que a sua figura foi resgatada e imortalizada como Herói Nacional durante o período de Proclamação da República.
Tiradentes circulava muito bem entre a classe mais pobre e a elite mineira e servia como um dos agentes influenciadores do movimento.
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Tiradentes
Algumas curiosidades interessantes sobre a vida de Tiradentes:
Não se sabe a verdadeira fisionomia de Tiradentes, pois não há nenhum registro da sua figura real. O que se sabe é que a figura com longos cabelos e barbas em que é representado nas suas pinturas e estátuas não é real, uma vez que na prisão os prisioneiros tinham seus cabelos e barbas raspadas para evitar a infestação de piolhos.
Após a execução seu corpo foi esquartejado e a cabeça exposta em Vila Rica, atual cidade de Ouro Preto.
A praça onde ele foi enforcado foi rebatizada com seu apelido, a cadeia onde ficou preso antes da execução na cidade do Rio de Janeiro, deu lugar ao Palácio Tiradentes.
Além de Tiradentes, outros personagens foram importantes no levante mineiro, são eles:
- Tomás Antônio Gonzaga: desembargador e poeta.
- Cláudio Manuel da Costa: advogado e poeta.
- Inácio José de Alvarenga Peixoto: fazendeiro e poeta.
- José Álvares Maciel: médico e filho do capitão-mor de Vila Rica.
- Francisco de Paula Freire de Andrade: tenente-coronel.
- José Joaquim Maia e Barbalho
- Joaquim Silvério dos Reis: fazendeiro e contratador de impostos e conhecido como o delator do movimento.
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Movimentos Nativistas e a influência na Conjuração
Os movimentos nativistas foram rebeliões coloniais ocorridas no Brasil durantes os séculos XVII e XVIII, caracterizadas por revoltas locais contra aspectos específicos da administração colonial portuguesa. Os movimentos refletiam a insatisfação dos colonos com a exploração econômica imposta pela Coroa. Via de regra, os movimentos nativistas não buscavam a independência do Brasil, mas tiveram um papel importante para que isso viesse a acontecer.
Alguns exemplos de movimentos nativistas:
1641
Aclamação de Amador Bueno
Insatisfação dos colonos de São Paulo com o retorno do domínio português sobre a capitania. Eles queria permanecer sob o domínio espanhol.
1660-1661
Revolta da Cachaça
Insatisfação da elite açucareira com a taxação da Coroa Portuguesa na produção da cachaça.
1684
Revolta de Beckman
Contra o monopólio comercial da Companhia Geral de Comércio do Maranhão e Grão-Pará.
1707-1709
Guerra dos Emboabas
Conflito entre paulistas e forasteiros (emboabas) pela exploração do ouro em Minas Gerais.
1710-1711
Guerra dos Mascates
Envolveu a disputa entre comerciantes (mascates) e nobres em Pernambuco.
1720
Revolta de Vila Rica
Contra a criação da Casa de Fundição e o aumento dos impostos em Minas Gerais.
Outra revolta famosa na história do Brasil é a Revolta da Vacina.
Grande parte das revoltas nativistas tiveram severas punições da Coroa Portuguesa. O objetivo era colocar medo nos colonos e evitar que outras revoltas acontecessem. Além de condenações a morte, muitos dos revoltosos foram condenados ao degredo (exílio).
Essas revoltas refletiam o descontentamento da população com a opressão metropolitana e foram a semente para o nacionalismo brasileiro. A Conjuração Mineira se diferenciou por ser considerado um movimento separatista e envolver a elite local e articular ideias republicanos. Diferentes dos movimentos nativistas, que mantinham sua lealdade com Portugal, os movimentos separatistas procuravam desvincular-se de Portugal, encerrando a relação de colônia e implementando uma república.
Além da Inconfidência Mineira, são exemplos de revoltas separatistas a Conjuração Baiana e a Revolução Pernambucana.
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O legado da Inconfidência Mineira no Brasil
Apesar de fracassada, a Inconfidência Mineira inspirou futuras lutas pela independência do Brasil, como a Proclamação da República em 1889. Durante o movimento pró República, Tiradentes foi resgatado como um herói nacional e o movimento mineiro passou a simbolizar a coragem contra a opressão portuguesa.
A Conjuração Mineira plantou a semente do ideal libertário no Brasil. Muitos historiadores apontam que o movimento iniciado nas terras mineiras anteciparam os anseios que mais tarde culminaram na Independência do Brasil em 1822 e mais tarde a Proclamação da República. Os ideais republicanos e anticoloniais defendidos pelos inconfidentes inspiraram também outros movimentos separatistas, como a Revolução Pernambucana de 1817.
Tiradentes, foi a figura resgatada pelos republicanos como um mártir pela liberdade e sua imagem foi transformada para simbolizar um Herói Nacional contra a opressão da Coroa Portuguesa, sinônimo de luta e resistência. Sua imagem, assemelhando-se a figura de Jesus Cristo, passa a habitar o imaginário popular.
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O movimento da Inconfidência Mineira se tornou central na formação do nacionalismo brasileiro e na consciência histórica brasileira. Seus ideias de autonomia e justiça social são ainda hoje invocados em discursos políticos e debates sobre soberania. O lema da bandeira de Minas Gerais em latim "Libertas quae sera tamen", que significa "Liberdade ainda que tardia" foi o lema da Inconfidência Mineira, proposto pelo poeta Alvarenga Peixoto.
Em resumo, a Conjuração Mineira representa não apenas um evento histórico do nosso país, como também um marco na luta por soberania, justiça e independência. Foi um divisor de águas que influenciou gerações e ainda hoje permanece vivo na memória do nosso país.









