Quando surgiu o feminismo? Onde surgiu o movimento feminista? Quando começou o movimento feminista? O que é a primeira onda do feminismo e o que pregava?
Essas são dúvidas bastante comuns nas aulas de história, e muitos professores de história sentem certa dificuldade em explicar sobre o assunto aos estudantes. Afinal, para alguns, a história do movimento feminista é considerada para lá de delicada.
Apesar de as mulheres lutarem durante toda a história por mais direitos, foi no século XIX que as manifestações se intensificaram. Mais especificamente em 1848, que Elizabeth Stanton e Lucretia Mott reuniram pautas sobre os direitos femininos, dentre eles, o voto.
As mulheres também queriam decidir sobre a história do país em que viviam. Política, diferente do que muitos filósofos positivistas e iluministas acreditavam, era, sim, um assunto de ambos os sexos.
Um dos enfoques da luta feminista na primeira onda, de acordo com cursos de história, foi em relação à entrada do sexo feminino para as empresas (e fim das dependências patriarcais).
Há centenas de anos, homens diziam que as mulheres poderiam tornar os debates maçantes, tirariam dele a seriedade da sociedade. Mas, não é isso que vemos acontecer agora: o mundo mudou, permite mais equidade entre ambas as partes, apesar de os salários ainda não serem os mesmos em muitos países, como no Brasil. Mulheres tendem a receber menos, mesmo que realizando a mesma função.
Uma forma fácil de professores e professoras de história explicarem o que é feminismo, é mostrando as diferenças entre gêneros que já existiram ou que ainda existem na sociedade. A luta feminista se difere do femismo, considerado o oposto do machismo e que prega superioridade do sexo feminino.
O feminismo luta pelos direitos iguais, por boas condições para as mulheres, para que possam participar do mercado de trabalho de forma ativa. Que sejam livres e donas de si para decidirem o que e quando fazer. Sem que precisem, portanto, depender de um casamento para isso.
Qual a origem da primeira onda do feminismo?
Elizabeth Stanton e Lucretia Mott marcaram a primeira onda do movimento feminista há dois séculos. Além de lutar pelo direito ao voto, ambas solicitavam que a mulher fosse inserida no mercado de trabalho.
Durante a revolução industrial, houve forte necessidade de mão de obra feminina. Foi então que a indústria começou a abrir espaço para este grupo, apesar de pagar um valor muito abaixo que aquele que até então era pago aos homens. Mulheres e crianças eram vistas como mão de obra barata.
Foi assim que as mulheres começaram a enfrentar longas jornadas duplas, com mais de 16 horas de fábrica e péssimas condições de trabalho. Sem contar os cuidados que precisavam ter com suas casas, maridos e filhos.
Com tudo isso houve uma revolução: agora, não precisam mais depender de um marido ou família, porque teriam a possibilidade, mesmo que trabalhosa, de conquistar a independência financeira para sair desse ciclo.
As sufragistas da primeira onda feminista
Na aula de história, aprendemos que a história do movimento feminista e a revolução feminina foi marcada por centenas de milhares de mulheres.
Citamos, abaixo, quais são as principais da primeira onda e um pouco sobre o que cada uma delas incrementou no movimento.
Lucretia Mott
Nascida no dia 3 de janeiro de 1793, em Nantucket, Massachusetts, EUA, e falecida em 11 de novembro de 1880, Cheltenham Township, Pensilvânia, EUA, Mott foi uma ativista dos direitos das mulheres, lutando pelo abolicionismo da escravidão. Com seis filhos, durante a sua vida atuou como professora e reformadora, participando ativamente de debates.
Com o apoio de seu marido, teve a possibilidade de viajar para outros locais e expandir as ideias que já havia desenvolvido desde a juventude. Até o final da sua vida, participou de movimentos contra a escravidão, sendo os principais deles da Sociedade Antiesclavagista Americana (1837, 1838, 1839).
Em 1840, a feminista participou da convenção Internacional da Sociedade Antiesclavagista no Freemason's Hall, que aconteceu em Londres.

- Lucretia Mott foi uma feminista que lutou pelo direito dos negros e mulheres - Fonte: College
Elizabeth Cady Stanton
Casada com Henry Brewster Stanton, um dos fundadores do Partido Republicano, Cady não estava somente preocupada com o direito da mulher em votar, como, também, queria que as mulheres tivessem direito à propriedade, emprego e renda. Ou seja, estabilidade sem depender dos esposos.
Com a possibilidade de participarem do mercado de trabalho, não precisariam depender de relacionamentos para a sustentação familiar. Consequentemente, teriam o direito de ir e vir, de tomar as decisões por si próprias.
Após a Guerra Civil Americana e a mudança da Constituição Norte-americana, Cady se opôs ao fato de que o país deixaria com que os homens negros votassem. De acordo com ela, não bastava apenas os negros votarem, como também todas as mulheres, sendo brancas ou não. Em 1848, junto a amigas e outras coligadas que lutavam por melhores condições, decidiram fundar uma convenção feminina.

- Elizabeth Cady Stanton foi casada com um dos fundadores do Partido Republicano - Fonte: History
Emmeline Pankhurst
Outra referência feminista foi Emmeline, que nasceu no dia Manchester, 15 de julho de 1858, morrendo com 69 anos em 14 de junho de 1928. Em 1878, quando já tinha 20 anos, começou a namorar um advogado, Richard Pankhurst, que era defensor de alguns direitos femininos, como ao voto. Foi então que passou a inspirar suas ideias.
Após casarem-se, durante muito tempo Emmeline se dedicou a cuidar dos filhos do casal. No entanto, decidiram contratar uma empregada para manter as crianças enquanto ela se dedicaria à Sociedade do Sufrágio Feminino. Em 1885, decidiram se mudar para Londres, onde abriram a loja Emerson and Company.
Com a loja tendo menos retorno do que esperavam, o advogado teve que repensar em formas para manter as finanças da família em dia. Posteriormente, Pankhurst auxiliou um socialista com o qual fez amizade e auxiliou na criação do partido socialista, do qual faria parte.
Em 1888, a feminista entrou para um movimento que lutava pelo direito ao voto feminino, o National Society for Women's Suffrage (NSWS).

- Emmeline Pankhurst lutou, ao lado de seu esposo, pelo direito ao voto feminino - Fonte: Freepik
Annie Kenney
Annie Kenney também foi uma sufragista presa inúmeras vezes por lutar pelo direito ao voto feminino. Ela foi uma das poucas mulheres que faziam parte da liderança do Women's Social and Political Union (WSPU) que tinha origem da classe trabalhadora. As mulheres mais pobres, de classe baixa, não possuíam condições de fazer parte destes movimentos, pois ainda enfrentavam longas jornadas de trabalho, além dos cuidados da casa.

- Annie Kenney é uma feminista que fez parte do Women's Social and Political Union - Fonte: Freepik
As mulheres que faziam parte do WSPU realizavam protestos com frequência usando o termo “deeds not words” (“ações e não palavras”). Elas instalaram bombas em ́prédios e auxiliaram na destruição de maquinários de algumas empresas.
Direitos conquistados pelas mulheres da primeira onda feminista além da Europa e Estados Unidos
Apesar do foco da primeira onda do movimento feminista ter ocorrido há dois séculos na Europa e América do Norte, vale salientar que muitas outras conquistas foram tidas além destas duas regiões.
Confira, abaixo, algumas:
Sati proibido em 1829
Sati ou suttee é um ritual indiano que determinava que a mulher viúva deveria se jogar na fogueira para queimar-se junto às cinzas do seu marido, como forma de honra. Este ritual veio da deusa Dakshayani, que se autoimolou quando o seu esposo morreu porque não conseguiria cuidar dos filhos sozinha.
Primeiras escolas para meninas no Brasil em 1827
O Brasil, em 1827, teve a abertura das primeiras escolas para meninas e outras mulheres que tinham o interesse de fornecer aulas para as escolas. Poucos anos depois, em 1832, Dionísia Gonçalves Pinto, com o pseudônimo de Nísia Floresta Brasileira Augusta, publicou o seu primeiro livro sobre direitos igualitários entre mulheres e homens.
Em 1835, as Ilhas Pitcairn concedem o direito ao voto
Foi no ano de 1835 que as Ilhas Pitcairn concederam o direito ao voto para as mulheres. Esta ilha faz parte de um território ultramarino britânico na Polinésia. Atualmente, esta região é conhecida como a jurisdição nacional menos populosa do mundo! Para se ter uma ideia, no censo de 2010 contavam com apenas 45 habitantes.
Qual foi significado desta primeira onda feminista?
No século XXI, o feminismo abrange as mulheres negras e de todas as classes. No entanto, isso não acontecia. A primeira onda feminista foi marcada especificamente pelas mulheres brancas, de classe média, que desejavam entrar para o mercado de trabalho, lutavam pela propriedade privada, mais direitos inclusive políticos. Esse, por enquanto, não era um direito das mulheres de classe alta.
A Revolução Francesa ocasionou em impactos significativos para os pensamentos da primeira onda feminista, pois pregava: "Liberdade, Igualdade, Fraternidade". Durante a revolução, algumas ideias estavam em voga, como o fim do absolutismo, nacionalismo, separação de poderes junto ao uso da razão.
Qual era a principal reivindicação da primeira onda do feminismo?
A história do movimento feminista foi marcada com o início da primeira onda, que conflitava pelo direito ao voto e pela participação das mulheres no mercado de trabalho. As mulheres de classe média eram aquelas que tinham condições para lutar e solicitar estes direitos: a batalha (ainda) não era de interesse da classe alta.
O casamento já era debatido nesta época, afinal, o sexo feminino queria mais equilíbrio e voz nos relacionamentos, não desejava mais ser depender do marido. Inclusive, os casamentos foram criticados por muitos autores brasileiros, como Machado de Assis. Outra obra que aborda sobre é Madame Bovary, europeia. Muitas mulheres sofriam feminicídio, violência, não conseguiram o divórcio.
E então, ficou com alguma dúvida sobre?









