As pinturas rupestres vão além de registros visuais, esse tipo de arte conta a história e refletem o modo de agir dos primeiros habitantes do Brasil, muito antes da chegada das caravelas portuguesas. Em muitos casos, as representações de arte encontradas em território nacional refletem ações ligadas às crenças e a espiritualidade dessas antigas sociedades.
Alguns desses desenhos rupestres também foram feitos como uma forma de preservar e transferir o conhecimento para as próximas gerações, retratando práticas essenciais para a sobrevivência, como a caça. Esse tipo de arte que existiu a centenas de milhares de anos em todo o mundo também está presente em algumas regiões do nosso país. Saiba onde encontrar.
Um patrimônio milenar em território nacional
O nosso país, além de uma grande biodiversidade e paisagens naturais de tirar o fôlego, também abriga um dos maiores patrimônios arqueológicos da humanidade de arte e pintura rupestre. Essas representações, espalhadas pelos quatro cantos do nosso país, são a prova da existência das primeiras civilizações que habitaram o nosso território.
A arte rupestre brasileira tem raízes nos tempos da pré-história, quando os primeiros homo sapiens começam a interagir com o ambiente em que viviam. Essas pinturas que foram encontradas em rochas e cavernas são a primeira expressão artística catalogada.
No Brasil, os registros encontrados datam de 12000 anos atrás, podendo ser até mais antigos. As pinturas provavelmente foram feitas por comunidades nômades e serviam para registrar eventos importantes, atividades do cotidiano, rituais e caça.
A maior parte das representações dessa época são encontradas no nordeste e norte brasileiro, mas há muitos registros também no estado mineiro. Destacamos a seguir, os principais locais para explorar a história dessas manifestações de arte milenares, bem como sobre a importância do estudo e da preservação desse patrimônio.
Piauí: Serra da Capivara
O Parque Nacional Serra da Capivara no estado brasileiro do Piauí possui a maior concentração de sítios pré-históricos das Américas. Há estudos que comprovam que essa área foi amplamente povoada há milhares de anos.
Reconhecido pela UNESCO como um Patrimônio Mundial da Humanidade, esse é um dos sítios arqueológicos mais estudados do nosso país. É nesse santuário arqueológico que encontramos diversos abrigos rochosos cheios de pinturas rupestres, datadas de até 12000 anos.
Há nessas pinturas uma grande diversidade de temas, entre as mais comuns podemos destacar cenas de caça, onde vemos a representação de figuras humanas com lanças, a perseguir animais, como veados, aves e tatus. Podemos encontrar também representações de danças, rituais e interações sociais. As cores e pigmentos naturais predominantes nos desenhos encontrados no Piauí são o amarelo, o vermelho e o branco.
Além da galeria de arte rupestre encontradas na Serra da Capivara, os arqueólogos encontraram ferramentas feitas de pedra, esqueletos humanos e muitas outras coisas que proporcionam uma oportunidade única para os estudiosos explorarem o passado das populações que habitaram o território brasileiro muito antes da chegada das caravelas portuguesas.
Pernambuco: Vale do Catimbau
O estado do Pernambuco também abriga outro importante local de preservação da arte rupestre brasileira, o Parque Nacional do Catimbau. Composto por uma vasta área de caatinga, na região entre o agreste e sertão pernambucano, é conhecido por suas impressionantes formações rochosas, que abriga pinturas rupestres de milhares de anos.

A preservação desse importante parque de conservação está sob a responsabilidade do ICMBio, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. É considerado o segundo maior parque arqueológico brasileiro, atrás apenas da Serra da Capivara.
A arte rupestre foi feita por grupos de diversas etnias e durante épocas diferentes, já que apresenta diversidade na técnica utilizada e no estilo de pintura.
Nas pinturas podemos encontrar representações geométricas, figuras abstratas e símbolos ligados às crenças dos habitantes daquela região. Os tons mais usados são o vermelho, o preto e o amarelo.
Paraíba
Pedra do Ingá
Ainda no nordeste brasileiro, encontramos a Pedra do Ingá, outro monumento arqueológico brasileiro, que é formado por um terreno rochoso repleto de inscrições rupestres. Diferente dos outros dois locais, aqui a arte não foi pintada, mas sim entalhada na rocha, o que chamamos de gravuras.

Esse sítio está situado à 38 quilômetros de Campina Grande e 109 quilômetros de João Pessoa no município de Ingá. A rocha cobre uma área de aproximadamente 250 metros quadrados e tem praticamente três metros de altura. Está coberta por muitas figuras, como representação de animais, frutas e até constelações, apesar das figuras, em sua maioria, não serem identificáveis.
A Pedra do Ingá era chamada pelos indígenas pelo termo "itacoatiara", que vem do tupi: itá (pedra) e kûatiara (pintada ou riscada).
O mistério e a mística desse sítio arqueológico é o que torna esse lugar tão rico, mas infelizmente ainda não é tão procurado pelos turistas. Além da Pedra do Ingá, há outras pedras com gravuras ou "itacoatiaras" no estado da Paraíba que carecem de atenção e preservação.
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Parque Estadual de Pedra da Boca
Ainda na Paraíba, outro acervo da arte rupestre está localizado no Parque Estadual de Pedra da Boca. A Pedra do Letreiro, hoje conhecida como Pedra da Santa fica situada no município de Araruna. Essa formação rochosa serviu de abrigo para o homem primitivo que deixou lá a sua marca.
Quando em 1954 o vigário de Araruna incentivou a construção de um altar homenageando Nossa Senhora de Fátima na gruta da Pedra do Letreiro é que iniciou os estudos arqueológicos no local. O problema é que as velas que são acesas pelos fieis na gruta acabam por cobrir a arte rupestre de fuligem.
Pará: Caverna da Pedra Pintada
Localizado no município paraense de Monte Alegre, esse outro sítio arqueológico também abriga pinturas rupestres com mais de 11 mil anos. Ao contrário das gravuras sem muito significado da pedra do ingá, aqui há retratos de animais, figuras humanas e cenas do cotidiano das populações.
Apenas a partir da década de 80 que esse sítio começou a ser estudados por arqueólogos, como Edithe Goeldi e Anna Roosevelt. A Caverna da Pedra Pintada prova que os primeiros habitantes a Amazônia já possuíam uma cultura bem estabelecida.
Os artefatos encontrados na caverna sugerem que a ocupação humana nesse local foi duradoura, já que foram encontrados artefatos de pedra, cerâmica e restos de fogueiras. É um sítio importante para compreender um pouco mais sobre a diversidade cultural das primeiras populações dessa floresta tão importante no nosso país.
As pinturas foram feitas por compostos de óxido de ferro com água e gordura animal, por isso a cor predominante é o vermelho. A visitação não é proibida, mas não há muito interesse na divulgação turística do local até para fins de preservação.
Minas Gerais: cavernas repletas de história
O Estado mineiro também tem história, ou melhor, pré-história. Não foram só os portugueses que exploraram o território mineiro em busca de ouro e diamante. Muito antes disso, há 8000 mil anos, já tivemos habitantes humanos em terras mineiras.
E a prova de que havia vida humana em Minas Gerais há muitos e muitos anos está nas pinturas rupestres que possuem mais de oito mil anos e nos esqueletos pré-históricos como o de Luzia, encontrado em solo mineiro. Estima-se que Luzia tenha vivido na região há cerca de 11 ou 12 mil anos atrás.
Cavernas do Vale do Peruaçu
Na região norte de Minas Gerais, ocupando os municípios de Januária, Itacarambi e São João das Missões, encontramos o Parque Nacional Cavernas do Peruaçu. Essa unidade de conservação têm o objetivo de proteger o parque geológico e arqueológico existente na região.
O parque abriga mais de 140 cavernas, 80 sítios arqueológicos e também pinturas rupestres. A Grupa do Janelão é o cartão postal do parque e conta com um museu de arte rupestre a céu aberto. Dentro do parque tem também a Lapa dos Desenhos e a Lapa do Caboclo, onde se pode observar muita pintura rupestre.
Vale do Rio das Velhas
Foi em Minas Gerais que começaram os primeiros trabalhos arqueológicos do Brasil, ainda no século XIX, Peter Lund começou a descobrir os primeiros sítios arqueológicos em Lagoa Santa e Matozinhos. Os vestígios encontrados por Lund provavam atividade humana de comunidades pré-históricas.
Foi nessa região, muito próxima a capital Belo Horizonte, que nasceu o estudo da pré-história brasileira.
O dinamarquês Peter Wilhelm Lund descobriu e catalogou centenas de cavernas no Vale do Rio das Velhas. É nessa região que situam-se as Grutas da Lapinha, de Maquiné e Rei Mato, muito exploradas do ponto de vista do turismo da região. Lund também foi importante para a paleontologia no Brasil, pois descobriu mais de 12 mil peças de fósseis na região de Lagoa Santa.
Gruta do Gentio II - Unaí
Já no noroeste do estado mineiro, temos a Gruta do Gentio II, localizada a 30 quilômetros de Unaí. Essa gruta, descoberta em 1973 possui provavelmente os mais antigos vestígios da presença humana no nosso país, que podem ter mais de 8000 anos e podem chegar até 12000 anos.
A evidência humana mais famosa coletada nessa região é uma pequena múmia natural de uma menina de aproximadamente 12 anos de idade, denominada como "Acauã". As escavações nessas grutas revelaram não só pinturas, como artefatos de pedra lascada e esqueletos humanos.
O Brasil possui um verdadeiro tesouro arqueológico de arte rupestre, oferecendo uma visão das primeiras civilizações e do período neolítico e paleolítico. É importante proteger e manter esses locais que contam a história e a evolução do ser humano.










achei legal so q precisa ser mais completo