Dobrar papel pode parecer um gesto simples, mas por trás dessa prática existe uma tradição milenar cheia de simbolismo e história. A arte do origami, conhecida mundialmente pelas suas figuras delicadas como tsurus e flores, tem origens que ainda geram debates entre estudiosos.
Afinal, qual é a verdadeira origem do origami? Teria surgido na China, onde o papel foi inventado, ou no Japão, país com o qual a arte está mais diretamente associada? Embora a palavra “origami” venha do japonês:
ori (dobrar)
kami (papel)
Há indícios de que dobraduras em papel já eram praticadas em outros contextos culturais bem antes de ganharem o nome que hoje conhecemos.
Neste artigo, vamos explorar a história do origami, entender seu significado cultural e simbólico, e descobrir como essa prática tradicional foi além das fronteiras asiáticas, tornando-se popular também no Ocidente e no Brasil.
Prepare-se para conhecer a trajetória fascinante de uma arte que transforma um simples pedaço de papel em poesia visual.
A origem do origami começa com a invenção do papel
Antes de qualquer dobra existir, era preciso que o papel fosse inventado. Por isso, ao investigar a origem do origami, é essencial entender primeiro como surgiu o papel – matéria-prima indispensável para essa arte.
A invenção do papel é atribuída ao chinês Cai Lun, um oficial da corte imperial da dinastia Han, no século II d.C. No entanto, descobertas arqueológicas mostram que versões rudimentares de papel já circulavam na Rota da Seda cerca de 300 anos antes, embora o processo ainda fosse limitado e pouco eficiente.
Foi a partir da técnica aprimorada por Cai Lun, utilizando fibras de cânhamo, que o papel se tornou um material de produção mais simples e barato. Isso permitiu sua disseminação por outras regiões da China e, posteriormente, por toda a Ásia.
Na Coreia, artesãos passaram a produzir papel a partir de materiais diversos, como palha de arroz, algas marinhas e fibras de bambu. A popularização do papel na península coreana foi tamanha que, em 1234, os coreanos desenvolveram o primeiro sistema de impressão com tipos móveis de metal – um avanço importante na história da comunicação.
Mas como o papel chegou ao Japão, onde o origami ganharia seu nome e importância cultural?
Por volta de 610 d.C., o monge budista coreano Don-Cho apresentou a técnica de fabricação de papel ao imperador japonês. A partir daí, os japoneses passaram a produzir papel artesanal de alta qualidade, conhecido como washi, e utilizá-lo em diversos aspectos da vida cotidiana: leques, sombrinhas, armaduras e até divisórias de ambientes eram feitas de papel.
Foi nesse contexto que surgiu a ideia de dobrar papel não apenas por funcionalidade, mas também com fins estéticos e simbólicos, abrindo espaço para o nascimento daquilo que hoje conhecemos como origami.
Ainda que o papel fosse amplamente funcional, a arte de dobrá-lo ganhou destaque por representar valores culturais profundos da Ásia, como disciplina, respeito à tradição e conexão com a natureza. Com o tempo, o significado do origami foi se transformando e se expandindo, ultrapassando as fronteiras do Oriente.
O significado do origami na cultura japonesa: disciplina, tradição e simbolismo
No Japão antigo, o papel era um material precioso e raro, utilizado apenas em ocasiões especiais. Por isso, as primeiras manifestações de dobraduras de papel, o que hoje chamamos de origami estavam ligadas a cerimônias religiosas e rituais importantes.
Durante casamentos, por exemplo, era comum o uso de borboletas feitas de papel dobrado como símbolo da união e da harmonia entre o casal. Até hoje, algumas cerimônias tradicionais japonesas mantêm esse costume.
Embora não se saiba exatamente quando o origami se consolidou como parte essencial da cultura japonesa, acredita-se que ele tenha ganhado força durante o período do xogunato (sistema militar que governou o Japão entre 1185 e 1868), os shoguns, conhecidos por sua disciplina rigorosa, utilizavam a arte de dobrar papel como um método para ensinar paciência, precisão e concentração aos seus soldados.
Nesse contexto, é importante diferenciar dois tipos de origami tradicional: o origami cerimonial e o origami recreativo.
O origami cerimonial era utilizado em ocasiões formais, como casamentos ou trocas de presentes entre samurais. Um bom exemplo é o noshi, uma dobradura especial que acompanhava presentes e continha uma pequena tira de peixe seco: sinal de respeito e consideração pelo destinatário.
Já o origami recreativo envolvia dobraduras praticadas para desenvolver habilidades mentais e motoras, como no treinamento dos guerreiros.
Esses registros mostram que, já no período Muromachi (1336–1573), o origami estava profundamente enraizado na sociedade japonesa. Mais do que uma simples arte manual, a dobradura de papel passou a representar valores fundamentais da cultura oriental: respeito, harmonia, disciplina e tradição.
Com o tempo, o significado do origami se expandiu, ganhando também uma dimensão educativa e filosófica, algo que permanece vivo até hoje.
O simbolismo do origami: a história dos mil tsurus de Sadako
Entre os diversos elementos que compõem a rica história do origami, poucos são tão simbólicos quanto o tsuru, o tradicional pássaro japonês feito a partir de uma única folha de papel dobrada.
Na cultura japonesa, o tsuru (grou) representa longevidade, prosperidade e boa sorte. Existe uma crença milenar de que, ao dobrar mil tsurus de papel, a pessoa terá seus desejos realizados, seja saúde, felicidade ou paz. Essa crença se tornou mundialmente conhecida por causa da emocionante história de Sadako Sasaki.
Sadako tinha apenas dois anos quando a bomba atômica foi lançada sobre Hiroshima, em 1945. Anos depois, aos 12, ela foi diagnosticada com leucemia, uma consequência da exposição à radiação. Na tentativa de se curar, ela decidiu dobrar mil tsurus, acreditando que esse ato simbólico pudesse salvá-la.
Mesmo internada em um hospital infantil, Sadako continuou dobrando, mas ao perceber que não sobreviveria, direcionou seus desejos não mais para si, mas para a paz mundial. Quando faleceu, foi sepultada com diversos tsurus: alguns feitos por ela mesma, outros por seus colegas de classe, que mais tarde lideraram uma campanha pela construção de um memorial em sua homenagem.
Hoje, a estátua de Sadako Sasaki no Parque da Paz de Hiroshima recebe milhares de origamis enviados de várias partes do mundo. Cada tsuru representa um pedido coletivo por paz, uma mensagem que transcende fronteiras, línguas e religiões.
「これはぼくらの叫びです これは私たちの祈りです 世界に平和をきずくための」
Tradução: Este é o nosso grito. Esta é a nossa oração. Para construir a paz no mundo.
O texto acima está inscrito na estátua de Sadako Sasaki no Parque da Paz de Hiroshima, e representa uma mensagem universal de esperança e paz.
Esse episódio marcante reforça não apenas o poder simbólico do origami, mas também o seu impacto cultural e emocional. Muito mais do que uma arte manual, o origami carrega histórias, memórias e significados profundos.
A jornada do origami até o Ocidente e o Brasil
Ao longo dos séculos, o origami deixou de ser uma prática exclusivamente japonesa para se tornar uma expressão artística valorizada em várias partes do mundo. A seguir, veja como essa arte de dobrar papel conquistou o Ocidente e, com o tempo, também o Brasil.
Linha do tempo: a expansão do origami pelo mundo!
Século XVII a XIX
Japão:
Durante o período Edo (1603–1868), o origami começou a se popularizar entre o público japonês, deixando de ser restrito a cerimônias e passando a ser uma atividade recreativa. As dobraduras simples ganhavam espaço entre adultos e crianças, fortalecendo seu valor cultural.
Final do século XIX
Europa:
Com a abertura do Japão ao mundo ocidental, principalmente após a Restauração Meiji (1868), diversos elementos da cultura japonesa tradicional, como o origami, começaram a chamar a atenção de estudiosos e artistas europeus.
Anos 1950
Reconhecimento global:
O origamista japonês Akira Yoshizawa revolucionou a arte com novas técnicas e introduziu o sistema de notação padronizado para instruções de dobradura. Seu trabalho foi fundamental para legitimar o origami como arte moderna e contribuiu para sua popularização fora do Japão.
Décadas de 1960-1980
América e Europa:
Grupos e associações de origami começaram a surgir em países como Estados Unidos, França, Alemanha e Inglaterra. A prática se difundiu como forma de meditação, ensino de matemática, terapia ocupacional e expressão artística.
Décadas de 1990-2000
Chegada ao Brasil:
O origami no Brasil ganhou força por meio de intercâmbios culturais, comunidades nikkeis (descendentes de japoneses) e oficinas em escolas e centros culturais. Também foi impulsionado por eventos de cultura japonesa, como festivais, e por livros traduzidos para o português.
Hoje
Brasil e no mundo:
Atualmente, o origami é praticado por pessoas de todas as idades no Brasil, tanto como passatempo quanto como recurso pedagógico e terapêutico. Grupos em redes sociais, feiras culturais e oficinas em escolas mantêm viva a tradição, promovendo a arte da dobradura de papel como ferramenta de criatividade, concentração e autoconhecimento.
A história do origami é, portanto, marcada por uma rica troca entre tradição e reinvenção. Sua origem está profundamente ligada à cultura oriental, mas sua linguagem é universal. Seja como símbolo de paz, disciplina ou expressão artística, o significado do origami segue se reinventando, agora também como parte do cotidiano de muitos brasileiros.
Uma arte que dobra o tempo e conecta culturas
A trajetória do origami mostra como uma prática aparentemente simples, dobrar papel, pode carregar séculos de tradição, espiritualidade, disciplina e beleza. Ao revisitar a origem do origami, entendemos que essa arte nasceu da evolução do papel e floresceu no Japão, ganhando significados profundos ligados à cultura, à cerimônia e à educação.
Com o tempo, a história do origami cruzou fronteiras e conquistou o mundo. No Brasil, essa arte continua se expandindo, sendo valorizada tanto por sua estética quanto por seus benefícios educativos e terapêuticos.
Hoje, o significado do origami vai além das dobraduras: ele representa paciência, paz, atenção plena e criatividade, qualidades cada vez mais necessárias em um mundo acelerado.
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