Ser indígena não é folclore, é honrar os ancestrais. É renascer cada manhã, como o sol nos milharais.
Eva Potiguara
Os mitos indígenas são carregados de sabedoria ancestral e uma narrativa sagrada. Fazem parte da identidade cultural indígena de toda a comunidade e transmite valores, histórias e narrativas que ajudam na preservação da identidade cultural e preservação dos ensinamentos ancestrais.
É importante reconhecermos que essas histórias fazem parte do patrimônio cultural dessas comunidades. Encarar essas histórias simplesmente como um folclore é uma forma de reduzir uma cultura de muitos e muitos anos do nosso país e da nossa história. Por isso, entenda por que esses mitos são muito mais do que uma parte do folclore brasileiro.
1. Curupira: o guardião das florestas
O Curupira, apesar de ter descrições físicas diferentes conforme a região do país, é frequentemente descrito com seus cabelos de fogo e pés ao contrário, com os calcanhares para frente, e ter uma estatura pequena, olhos vermelhos e dentes verdes. Além disso, é dotado de grande força física. Na lenda, Curupira é considerado o herói das florestas, perseguindo aqueles que tentam destruí-la.
Esse ser místico tem tanta importância e simbologia na nossa cultura que foi escolhido como mascote da COP30 que será realizada em 2025 no Pará, uma vez que ele está associado com a proteção das florestas.
O conto tem origem nos povos indígenas do Norte brasileiro, principalmente no Amazonas e Pará. Os indígenas acreditam que o Curupira aterroriza e mata aqueles que entram na floresta para caçar ou derrubar árvores, e por isso ofereciam presentes para impedir que fossem vítimas desse ser místico.
Curupira tem origem no Tupi e há algumas divergências entre o seu significado. Há quem diga que quer dizer "corpo de menino" e outras linhas dizem que significa "coberto de pústulas" ou "pele de sarna"
2. Caipora - a protetora dos animais
Na mesma linha do Curupira, a Caipora é uma índia de pequena estatura que tem como objetivo proteger os animais da floresta dos caçadores. Alguns entendem que a lenda da Caipora é uma variação do mito do Curupira.
A Caipora habita na floresta fechada e atua contra os caçadores dos animais que matam mais do que o necessário para comer. O nome tem origem do Tupi e significa habitante do mato. O Curupira é conhecido como o guardião da floresta e a Caipora a guardiã dos animais.
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3. Iara - a Mãe D'água
A sereia Iara é outro mito indígena que faz parte das histórias contadas de geração em geração. A narração diz que a mãe d'água é linda e com uma voz encantadora e seduz os homens a beira do rio para levá-los para debaixo da água.

Há historiadores que acreditam que apesar da lenda ter força entre os indígenas, ela foi introduzida na cultura brasileira pelos europeus. A história da sereia diz que ela era uma guerreira indígena, filha de um pajé, que foi perseguida pelos irmãos, mas lutou e matou todos eles. O seu pai, furioso, atirou-a no encontro dos rios Negro e Solimões, ela foi então resgatada por peixes e transformou-se em Yara (do tupi senhora da água).
Veja a importância da comemoração do Dia dos Povos Indígenas para preservação da identidade cultural dos povos originários.
4. O misterioso boto cor-de-rosa
O boto cor-de-rosa é um animal da família dos golfinhos que habita os rios amazonenses. Segundo a lenda, o boto transforma-se em um homem muito elegante, vestido de branco e chapéu nas festas juninas, seduzindo as jovens solteiras e levando-as para o fundo do rio e engravidando-as e nunca mais voltando a vê-las.
É uma lenda comum para justificar gravidez fora do casamento ou de mães solteiras, dizendo que a criança é filha do boto.
Os indígenas também acreditam que quem come carne de boto fica louco e enfeitiçado.
5. Lenda do Boitatá
Boitatá é a lenda de uma cobra verde, de fogo, com muitos olhos e que protege as florestas daqueles que tentam incendiá-la. O primeiro registro da história do Boitatá no Brasil foi feita pelo padre José de Anchieta, no século XVI.
Boitatá pode se transformar também em um tronco, e o objetivo dele é matar aqueles que tentam incendiar os campos. A palavra inicial era "mbói-tatá" que do tupi quer dizer cobra de fogo. Como a pronúncia de mbói se assemelha a palavra boi do português, o nome passou a ser boitatá. Veja outros termos do vocabulário indígena que estão presentes no nosso dia a dia.
A lenda sofreu diversas alterações ao longo do tempo e também pode ter algumas variações conforme a região do país. Em algumas regiões ele é um touro de um olho só. Em outras é considerado manifestações dos espíritos das pessoas não batizadas.
6. A lenda da mandioca
A lenda da mandioca conta a história da origem desse alimento tão importante e essencial na cultura indígena. O conto diz que uma certa vez nasceu em uma tribo indígena uma menina branquinha e linda. Era uma criança quieta e os pais chamaram-na de Mani.
Certo dia, Mani morreu em sua oca, mas mesmo morta apresentava um semblante sorridente. Ela foi enterrada pela mãe em sua oca e o corpo era regado pelas lágrimas de tristeza da mãe.
Depois de algum tempo, perceberam que da cova de Mani nasceu uma planta verde. Ao retirar a planta da terra, na esperança de desenterrar a filha com vida, a mãe encontrou uma raiz nunca antes vista na região. Era a mandioca, cujo nome é a junção de Mani + Oca.
Os indígenas resolveram replantar os ramos da mandioca para usar a raiz como alimento. Desde então, esse alimento tornou-se muito importante entre os tupis.
7. Guaraná: a origem do fruto segundo os indígenas
A palavra guaraná vem da língua indígena sateré-mawé e é uma modificação de waraná, que significa "a fonte de sabedoria". O fruto já era plantado no Brasil pelos indígenas antes mesmo da chegada das caravelas portuguesas no nosso território.
E há uma lenda indígena para contar a história da origem do fruto que parece um olho. A narrativa amazonense diz que o fruto é originário dos olhos de um pequeno indígena que foi picado por uma serpente quando estava a apanhar frutas na floresta.
A lenda diz ainda que o menino era filho de um casal que pediu ao deus Tupã por um filho e o pedido foi concedido. O casal teve um filho lindo e saudável ao qual chamaram Cauê. Como Tupã também gostava muito do menino, deu a ele o dom de conversar com os animais e com as plantas.
Mas o deus da escuridão, chamado de Jurupari, resolveu matar o menininho. Jurupari se transformou em uma serpente e matou o pequeno índio com o seu veneno.
Tupã mandou que a família plantasse os olhos do menino para que deles nascesse uma planta. O fruto seria dado as pessoas para dar-lhes energia. Foi então que, segundo a lenda, no local em que os olhos foram plantados, nasceu o fruto do guaraná. O fruto apresenta um formato de olho e teria a cor que lembra o tom de pele de Cauê.
O Guaraná faz parte dos frutos e ervas medicinais dos índios.
8. A lenda do Saci-pererê
O Saci-Pererê é um jovem negro de uma perna só, conhecido por fazer travessuras e viver na floresta. Ele esconde objetos das pessoas, atrapalha o trabalho de cozinheiras, faz tranças nos pelos dos cavalos durante a noite.
A figura do saci é descrita por um menino negro, que usa um gorro e uma calça vermelha e fuma um cachimbo. Dizem que o Saci nasce de um bambu e quando morre vira um cogumelo venenoso.
A lenda surgiu na região sul do Brasil e foi influenciada por elementos da cultura africana e também da cultura indígena. O redemoinho de vento era também visto como uma obra do saci, que tinha por hábito levantar as folhas e espalhar sujeira.
Se alguém conseguir capturar um saci, deve retirar-lhe o gorro para que ele perca os seus poderes sobrenaturais.
Veja como a culinária indígena influencia o cardápio das famílias brasileiras.
9. A lenda do Uirapuru
O Uirapuru é um pássaro da região da Amazônia do Brasil, que tem um lindo canto. A lenda diz que antes de se tornar pássaro, Uirapuru era um jovem índio que vivia um amor proibido. Ele apaixonou-se pela esposa do cacique da sua tribo e é expulso da sua tribo.
Foi então que pele pediu ao deus Tupã para ser transformado em um pássaro para estar sempre perto da sua amada. Ele voltou para a sua tribo e encantou a todos com o seu lindo canto.
Dizem ainda que a presença e o canto do uirapuru trazem sorte, e por essa razão muitos acabam por o perseguir. É um pássaro raro e que corre risco de extinção.
10. Vitória-régia e a lua
Segundo os povos originários, a vitória-régia surgiu em uma homenagem de Jaci (a lua para os índios) para uma jovem índia que morreu afogada após ter se apaixonado pela lua.

A índia Naiá, ao ver o reflexo da lua nas águas do rio, foi ao encontro de Jaci e acabou morrendo afogada. Em retribuição aquele amor, Jaci resolveu transformá-la em uma estrela da água.
Essas são só algumas das lendas e histórias da nossa cultura, que é tão rica. Os indígenas influenciam na nossa cultura através do artesanato indígena, do vocabulário, da culinária e do seu conhecimento da natureza. Se você quer ter uma aula de história, que tal procurar um professor particular na Superprof?









