Sem dúvida alguma, Joaquim José da Silva Xavier é o nome mais famoso da Inconfidência Mineira e um dos grandes nomes na história do Brasil. Tanto que ele é considerado como um ícone de liberdade e independência do Brasil e foi escolhido como o primeiro Herói Nacional. Mas o que aconteceu para que ele merecesse um feriado e um dia dedicado em sua homenagem? Quais fatos ocorreram durante a vida e a morte de Tiradentes para que ele se tornasse uma personagem tão importante da História do Brasil?
No decorrer deste artigo vamos trazer curiosidades que provavelmente seu professor de história não falou durante as aulas do ensino fundamental ou ensino médio sobre o maior tropeiro da Inconfidência Mineira. O movimento separatista que tornou-se um marco na luta do Brasil para ser um país independente e cortar definitivamente os laços com a Coroa Portuguesa. Apesar da Inconfidência vislumbrar apenas a independência da capitania mineira, englobando no máximo São Paulo e Rio de Janeiro, foram esses movimentos locais que deram força para um desejo separatista de proporção nacional.
O levante contra a Coroa Portuguesa nasceu na cidade de Vila Rica, atual Ouro Preto, capital da capitania de Minas Gerais à época. A cidade era rica e desenvolvida graças a extração do ouro, e atraiu muitas personalidades ilustres que construíram ali suas casas.

Descontentes em relação às crescentes cobranças de taxas sobre toda a produção agropecuária e a cobrança do quinto sobre a extração de ouro, e influenciados por ideais da Revolução Francesa e do movimento separatista dos Estados Unidos, a elite da capitania mineira juntou-se em um movimento político separatista.
Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, foi considerado em sua condenação como o líder do movimento. Nascido em 1746 na Fazenda de Pombal, na capitania das Minas Gerais, era o quarto dos 7 filhos de um proprietário rural português, Domingos da Silva Xavier, e da portuguesa Maria Paula da Encarnação Xavier nascida na colônia brasileira.
O único inconfidente condenado à forca era um homem comum, que exerceu diversas funções durante a sua vida. Mas uma série de acontecimentos levaram Tiradentes a ocupar o "cargo" de primeiro herói nacional escolhido pelo regime republicano, muitos anos após a sua morte.
Porque Joaquim José da Silva Xavier ficou conhecido como Tiradentes
Com apenas 11 anos de idade, o pequeno Joaquim José já era órfão de pai e mãe. Depois da morte de seus pais, ficou sob tutela de seu padrinho e tio, Sebastião Ferreira Leitão. Sebastião era cirurgião dentista e ensinou a sua função para o sobrinho e afilhado. Há relatos que ele confeccionava dentes que pareciam naturais e que evitava extrair o dente dos seus pacientes, a não ser que fosse estritamente necessário.
Apesar de ter trabalhado como mascate, um vendedor ambulante de fazendas, minerador, comerciante em uma botica, as antigas farmácias, e ter sido militar, foi a profissão aprendida com o tio que lhe rendeu a alcunha ou apelido de Tiradentes.

Imortalizado com essa alcunha, muitas pessoas chegam a nem saber ou lembrar seu nome verdadeiro. Joaquim José da Silva Xavier é nacionalmente conhecido pelo seu apelido, Tiradentes. A praça onde ele foi enforcado foi rebatizada com seu apelido, a cadeia onde ficou preso antes da execução na cidade do Rio de Janeiro, deu lugar ao Palácio Tiradentes, uma cidade em Minas também foi renomeada e o feriado nacional brasileiro celebrado em 21 de abril, dia da sua execução, também recebe o nome de Dia de Tiradentes.
Porque Tiradentes não podia usar barba?
Apesar de todas as imagens, quadros e até estátuas de Tiradentes o retratarem com cabelos longos e barba grande, Tiradentes não utilizava barba devido à carreira militar. Como alferes ele devia ter a barba feita e os cabelos curtos e poderia no máximo manter um bigode. As regras militares eram bem rígidas em relação a isso.
Na data do seu enforcamento, ele muito provavelmente estava com o cabelo e a barba raspados. Mas porque ele é sempre retratado com os cabelos longos e a barba comprida? Simplesmente para que a sua imagem seja semelhante a de Jesus Cristo. Não é a toa que alguns historiadores referem-se a ele como o cristo cívico.
Em 1889, após a Proclamação da República, o novo regime precisava de alguns heróis que retratassem a história da República Brasileira e aproximassem o povo ao novo governo. Aproveitando-se da religiosidade do país e para atrair a empatia da população, a imagem do herói escolhido começou a ser retratada em quadros e estátuas à imagem e semelhança da figura de Jesus.

Segundo os historiadores e especialistas, o quadro "Tiradentes esquartejado" de Pedro Américo, não retrataria a cena da sua execução de forma realista, já que as prisões raspavam os cabelos e barbas dos prisioneiros para evitar infestações de piolho. Desta forma, ele não estaria com a aparência do quadro no momento do seu enforcamento.
Por que não se conhece a verdadeira fisionomia de Tiradentes?
Alguns relatos da época identificam Tiradentes como um homem alto e magro e de aparência não tão bonita. Ele provavelmente era um homem feio. Sabe-se também que era branco e aos 40 já era grisalho. Todos os quadros e esculturas que retratam o mártir são posteriores a sua morte e como vimos anteriormente, criaram uma figura irreal.
Desta forma, é difícil saber qual a real fisionomia de Tiradentes. Durante o período de monarquia no Brasil, sua imagem permaneceu esquecida, e só após a Proclamação da República que sua figura foi resgatada. Passou-se então a associar a figura de Tiradentes a de Jesus Cristo, tornando-se portanto impossível saber qual era a sua verdadeira aparência.
Alguns cientistas conseguiram recriar a face de José Resende da Costa, um dos inconfidentes, a partir do seu crânio. Mas, como o crânio de Tiradentes desapareceu, essa tecnologia de reconstituição facial não seria possível. Há vários mistérios na história do tropeiro, e um desses mistérios está relacionado a sua fisionomia.
O que aconteceu com a família de Tiradentes?
Nascido na região de Santa Rita do Rio Abaixo em 12 de novembro de 1746, Tiradentes era filho de dois portugueses. A mãe, já havia nascido na colônia brasileira. O pai era um produtor rural que veio de Portugal para ocupar as terras brasileiras.
A mãe de Tiradentes faleceu em 1755 e o pai em 1757, desta forma, ele perdeu sua família ainda muito novo, com apenas 11 anos de idade. Não fez estudos regulares, nem universidade, mas aprendeu com seu padrinho, que o criou após o falecimento dos pais, o ofício de dentista. Tornou-se um profissional na área.
Tiradentes nunca se casou, mas há quem diga que ele teve dois filhos com Eugênia Joaquina da Silva. Em 1969 o governo brasileiro reconheceu três trinetos de Tiradentes, contemplando-os com uma pensão vitalícia de dois salários mínimos para cada um deles.
Veja um resumo da história de Tiradentes, narrada no vídeo abaixo:
Outra versão da história conta que aos 40 anos ele se envolveu com uma jovem de 15 anos, Antônia Maria do Espírito Santo, com quem teria tido sua única filha, Joaquina. O jornalista e escritor Lucas Figueiredo, autor da biografia de Tiradentes publicada em 2018, afirma que esta tenha sido a grande paixão da vida dele, conforme identificado nas suas pesquisas sobre a vida do seu biografado.
Ainda hoje, há pessoas em Minas Gerais que reivindicam uma possível descendência do famoso inconfidente em busca de uma pensão do governo.
Por que Tiradentes foi o único a ser enforcado?
Essa talvez seja a parte mais impressionante da história de Tiradentes. Foram cerca de 30 os condenados pela traição à Coroa e participação no movimento da Inconfidência Mineira. Diversos deles receberam a condenação máxima, mas todas as penas de morte foram revertidas à degredo (exílio) e apenas a sentença de morte de Tiradentes foi mantida.
Há quem diga que sua condenação mais severa se deva ao fato dele ser um dos participantes menos abastados do movimento. Outros, dizem que ele assumiu toda a culpa e comando para livrar seus companheiros da condenação. O que se sabe é que devido ao pouco estudo, provavelmente Tiradentes não seria o inconfidente mais influente ou o melhor orador. Mas, pelo fato dele ser da classe mais pobre, tinha a função de convencer a população mais humilde a também aderir o movimento. Ele circulava muito bem entre a elite e o proletariado tanto da capitania de Minas como do Rio de Janeiro, sendo uma peça muito importante.
Durante quase quatro anos de prisão, o julgamento dos inconfidentes corria na justiça. Em 1792 chegou-se ao veredito final e o mito em torno da história de Tiradentes começou a nascer. Foram cerca de 11 depoimentos, onde inicialmente ele negava qualquer participação. Muitos dos inconfidentes foram condenados a morte, mas uma carta de clemência de D. Maria I reverteu todas as sentenças a degredo, com exceção da sentença de Tiradentes. Há versões da história que dizem que ele serviu como "bode expiatório" ou usado como exemplo por ter menos influência e dinheiro que seus companheiros.
Por fim, sua morte e esquartejamento foi um marco no Brasil. Não há um professor história que não conte sobre a sua importância durante as aulas de História do Brasil.









