QUESTĀO 01 | 08
Tem quanto tempo que você possui interesse pela matéria que você leciona e por dar aulas particulares?
Laís — Iniciei o processo de formação, enquanto professora, em meados de 2011, quando fui selecionada para o Programa de Licenciatura Internacional, realizado pela Capes, para realizar parte de minha graduação em Letras em Portugal, quanto estudava na Universidade de São Paulo (Português e Latim). Em Coimbra, onde estudei na Universidade de Coimbra entre 2011 e 2013, tive a oportunidade de me envolver com um projeto de contação de histórias e práticas de teatro com temas Greco-Romanos para crianças e adolescentes em Hospitais Oncológicos e Casas de Acolhimento. Neste momento, percebi que tinha facilidade em lidar com situações de ensino e então busquei desenvolver minhas habilidades em sala de aula por meio da licenciatura, tendo realizado estágios em escolas públicas, tanto em Portugal quanto no Brasil. Quando retornei ao país iniciei as práticas de aulas como teacher assistant em uma escola bilíngue, para ensino infantil, onde tive contato com o método de ensino Waldorf - que ampliou minhas práticas enquanto professora - e aprendi a lidar com crianças menores de 6 anos, compreendendo as suas necessidades de aprendizado. Em seguida, ministrei aulas de latim junto com um grupo de outros alunos da Univ. de São Paulo na Escola Amorim Lima (reconhecida por ter sua metodologia de ensino baseado na Escola da Ponte, de Portugal), para alunos do quarto ano, bem como, ao fim do projeto, foi selecionada para ser monitora para as disciplinas de Filologia Portuguesa e Língua Portuguesa na Faculdade de Letras. Ao fim do período de monitoria, passei a oferecer aulas de reforço individual na escola Aluno 10, na disciplina de Português, adquirindo experiência com alunos da 1ª série do Ensino Fundamental até o 3º do Colegial e, então, lidando com os mais variados interesses e dificuldades apresentadas pelos estudantes, o que desenvolveu minha capacidade de adaptação para cada situação. Desde então, percebi que estava preparada para oferecer minhas próprias aulas particulares, aplicando aquilo que aprendi durante todo esse período, e atendendo estudantes de diferentes idades e níveis o que me levou a ser selecionada para fazer parte do quadro de professores do projeto da Hagar Educação que tem como missão a alfabetização de alunos.
QUESTĀO 02 | 08
Conte-nos um pouco sobre a matéria que você leciona: o que você mais você sente prazer em ensinar e o que, eventualmente, te agrada menos?
Laís — Leciono Português, entretanto, não gosto de chamar de matéria, sendo esse um dos principais objetivos das aulas. Muitos alunos, especialmente aqueles que estão em fase escolar, acreditam que aprender Português seja apenas uma disciplina na escola, o que os leva a se sentirem desmotivados em relação a esse conteúdo, não conseguindo relacioná-lo com sua vida prática. Desmistificar essa ideia é o primeiro passo, uma vez que o Português liga-se ao dia-a-dia dos alunos, seja em seu trabalho, em suas relações pessoais ou como forma de auto-expressão. Por isso que, o que mais me dá satisfação durante as aulas é perceber que o aluno foi capaz de compreender a importância de desenvolver esse saber para além de uma nota na escola e trabalhar criativamente com o língua. Por outro lado, aquilo que mais me desagrada é quando o aluno acredita que apenas as aulas particulares serão o suficiente, sem esforçar-se diariamente para obter melhores resultados. O trabalho é todo desenvolvido em conjunto com o aluno, por isso é preciso dedicação não só em aula, mas nas tarefas e indicações solicitadas a ele, de modo que possa alcançar mais rapidamente seu aperfeiçoamento.
QUESTĀO 03 | 08
Qual(ais) é(são) seu(s) modelo(s) ou inspiração(ões)? Pode ser desde um professor até um artista ou obra que tenha te inspirado!
Laís — O trabalho de Anne Sullivan e o exemplo de Helen Keller são uma das minhas principais referências, não só no campo do ensino, mas para a vida. Keller foi uma escritora, conferencista e ativista social norte-americana, sendo a primeira pessoa surda e cega a conquistar um bacharelado. De todo modo, suas conquistas só foram possíveis graças à coragem e insistência da professora Sullivan que, mesmo quando todos acreditavam que Keller não tinha nenhuma maneira de integrar-se socialmente, insistiu em lhe ensinar não somente a portar-se em sociedade, dentro do padrão daquilo que se esperava a qualquer cidadão na época, mas também a comunicar-se. Sullivan me inspira porque se colocou até mesmo contra a própria família de Keller (que se contentava apenas em a menina saber portar-se), pois sabia que a menina seria capaz de aprender a comunicar-se, já que ela tinha tido experiência com Laura Bridgman que era também surda e cega 50 anos antes de Keller e tinha tornado-se profícua em língua inglesa. O que parecia impossível, depois da imensa dedicação da professora, já que até os seis anos Helen não conseguia se comunicar de nenhuma maneira e era agressiva, tornou-se possível. Hellen aprendeu não só a ler, escrever, interpretar, mas também a falar. Ao adquirir esse conhecimento, a aluna não parou por aí e desenvolveu cada vez mais suas habilidades, se tornando a primeira pessoa surda e cega a tirar um título no ensino superior. Foi grande defensora dos direitos dos deficientes e também sufragista, lutando pelos direitos das mulheres de participar da vida social e política assim como era permitido, naquela, época aos homens.
QUESTĀO 04 | 08
Quais são, na sua opinião, as qualidade necessárias para ser um excelente profissional na sua especialidade de ensino?
Laís — Na minha opinião qualquer profissional, seja na minha área de especialidade de ensino, seja em outra área, precisa apoiar-se num tripé de conceitos fundamentais para obter êxito em sua profissão. A primeira é a paixão por aquilo que realiza. Dar aula é sempre um grande desafio para todos os professores, pois muitos fatores podem levá-los a desanimar, seja o salário baixo, a falta de comprometimento dos alunos, a incompreensão de chefes, colegas e familiares de alunos... Por isso, um professor precisa estar sempre disposto a lidar tanto com a parte boa quanto a ruim, usando os dois casos para desenvolver-se melhor e obter mais experiência. O segundo ponto é a formação. Considero que a formação é muito importante, embora não me refira apenas a formação acadêmica. Interessar-se pelo assunto e atualizar-se permite ao professor ter maior domínio do assunto. Além disso, é importante, no caso de um professor de Português, gostar de ler e facilidade de interpretação não só textual, mas ser capaz de interpretar os sinais que o aluno transmite de modo a adaptar a aula para sua necessidade. Por último, considero que é importante a experiência, uma vez que é a partir dela que o professor saberá como portar-se com seus alunos, lidando com diferentes situações e tendo jogo de cintura para enfrentar os obstáculos que se impõe na carreira.
QUESTĀO 05 | 08
Você teria alguma história e/ou curiosidade engraçada relacionada à sua profissão ou as aulas para compartilhar?
Laís — As histórias mais engraçadas, em minha experiência enquanto professora, ocorreram enquanto era professora do Ensino Infantil, isso porque as crianças são muito espontâneas e falam as coisas sem os filtros sociais que vão se criando conforme amadurecem. As associações que fazem são sempre inusitadas e muitas vezes absurdas e é interessante observar como elas tentam imitar seus pais, mesmo sem saber o que aquilo significa. Lembro-me que uma vez, durante um Snack (que era o lanche que as crianças tomavam à tarde), as crianças estavam muito quietas na mesa, pois um de seus colegas estava contando alguma coisa e todas estavam prestando atenção (o que é bastante difícil, mas pareciam estar imitando uma reunião de adultos). Esse menino, que tinha aproximadamente cinco anos, começou chamando a atenção dos colegas para aquilo que estava sendo servido no lanche, que era um sanduíche de peito de peru. Ele fazia então um gesto de "peitinho" e apertava o próprio peito e "peru"… enfim, dá para imaginar. As crianças riam muito, mas não sabia dizer se elas estavam entendendo aquilo e nem se ele próprio estava entendendo. Ele continuava o "talk show", já que tinha toda a atenção dos colegas, e dizia que o pai dele fazia isso em casa toda vez que tinha peito de peru e depois passou a contar uma história que toda a vez que a mãe dele comprava uma roupa nova, ou alguma outra coisa o pai dele dizia "ah, é por isso que não tenho uma Ferrari" e, mais uma vez, todas as crianças começaram a rir. Achei curioso a situação toda e perguntei para ele o porquê do pai dele dizer aquilo, pois queria saber se ele estava entendendo o que significava, mas ele não sabia. Perguntei então para as outras crianças que estavam rindo, mas nenhuma delas também sabia dizer o que tinha de engraçado. Nesse momento percebi o quanto os adultos influenciam as crianças não por aquilo que dizem para elas, mas em seu próprio modo de agir. Por isso, quando um pai ou uma mãe me diz que seu filho(a) não tenho hábito de ler, que só quer ficar no telefone e no computador, eu pergunto se eles próprios têm o hábito de leitura, já que as crianças têm a tendência de seguir o exemplo dos adultos. As crianças estão sempre muito atentas ao que está ocorrendo a sua volta, mesmo que não entendam. Uma outra aluna, ainda menor, tinha aproximadamente três anos, disse-me - quando fui levá-la ao banheiro - que sua mãe estava "com a vagina doendo". Eu fiquei por uns instantes imaginando como aquela criança estava sabendo daquilo e meio perturbada com a afirmação, então ela concluiu "ela está monstruaba teacher" e eu só conseguia rir, porque tinha imaginado outras coisas. Essas são algumas histórias, não caberia dizer tudo, mas vale a pena para relembrar como somos exemplos para os mais novos.
QUESTĀO 06 | 08
Confesse pra gente, você também já passou por alguma dificuldade na escola/faculdade na matéria que você leciona...[
Laís — Quando estava em fase escolar não me interessava em estudar Português, pois tinha muita facilidade, então focava meus esforços em disciplinas de Exatas que eram minha maior dificuldade. Uma coisa que mudou completamente da minha fase escolar, para o nível superior foi meu interesse pela poesia, pois antes achava muito chato, especialmente a poesia parnasiana. Pensava que poesia era isso, fazer rimas, usar formas fixas, falar de sentimentos… quando descobri o verso livre isso mudou meu jeito de ver a poesia, de modo que hoje é aquilo que mais gosto e sempre incentivo meus alunos a verem que existe muito mais do que aquilo que a escola ensina.
QUESTĀO 07 | 08
Nos ajude a te conhecer um pouco melhor, conte-nos um pouco sobre suas paixões! ♥️
Laís — Como disse, uma das minhas paixões é a poesia. Aliás, a principal paixão. Desse interesse surgiu uma investigação cada vez mais profunda e passei a escrever e produzir meus próprios materiais, sendo que atualmente tenho um trabalho artístico mais sólido, realizando produções audiovisuais nesse campo, como a vídeo-poesia. Sendo assim, tudo aquilo que relaciona-se à arte interessa-me, não só na linguagem verbal, mas também não verbal. Frequentemente vou a exposições, museus, teatros, espetáculos de danças etc, sendo esse um dos maiores prazeres da minha vida e contribuindo bastante para meu desenvolvimento, o que se reflete em minha postura e conhecimento enquanto professora. Unindo o meu interesse didático a este ponto, criei a página e o canal do Deslise, que procura oferecer informações gratuitas sobre a arte para todos aqueles que têm interesse.
QUESTĀO 08 | 08
O que faz de você um Superprof (além de ter respondido a esta entrevista 😍) ?
Laís — Estar sempre disposta a apreender e nunca acreditar que já sei tudo. O contato com os alunos é muito enriquecedor, aprendo muito com eles, não só sobre suas personalidades e interesses, mas sobre suas visões de mundo e contextos que estão inseridos. Por isso, em minha aulas, além dos conteúdos planejados para atender suas necessidades, sempre dou espaço para a livre circulação de ideias e deixo os alunos à vontade para expressarem-se, dando voz a eles. Em uma sala de aula com muitos alunos é difícil conseguir esse espaço, portanto, as aulas particulares permitem esse amadurecimento, fazendo-os refletir sobre suas postura e sobre seus pensamentos. As aulas são adaptadas para cada necessidade e interesse, por isso o desenvolvimento em muito pouco tempo já é possível de ser percebido e os pais, em geral, agradecem-me, pois identificam uma mudança significativa em seus filhos passadas algumas aulas. Manter uma horizontalidade na comunicação e tratar com muito carinho e respeito, isso é o que me faz ser uma Superprof. :)